Eu já tinha me manifestado a favor dessa audiência pública realizada ontem, em virtude do grande momento de termos frente a frente, políticos versus sociedade upanemense. Confesso que não foi surpresa para mim um plenário cheio e nem tão pouco uma quantidade tamanha de políticos potiguares. Também estava nos meus planos, a participação do PÚBLICO, ou a audiência não era pública? Se eu soubesse que a audiência não teria a participação da sociedade, perguntando, criticando de forma educada, dando sugestões, não teria defendido a mesma. Até poucas horas antes do evento, me reuni com os idealizadores da audiência para traçarmos o formato da mesma. Ficou definido que a imprensa local e a população iriam participar através de perguntas, o que consequentemente provocaria o debate. Mas, como vimos isso não aconteceu. De forma não oficial, fiquei sabendo que não tinha acontecido o momento das perguntas do povo em virtude do horário ter avançando com os discursos das autoridades e da alta temperatura no local. Concordo que isso aconteceu mesmo. Também concordo que se era pra ouvir discursos de campanha, era melhor ter ouvido o povo. Ora meus amigos, tivemos raros momentos de proveito da audiência. A prefeita Maristela, que falou o que o povo queria dizer, ou seja: chega de conversa mole, queremos ação. A deputada Fátima Bezerra – quando estava lúcida e sem o efeito delirante do lulismo – que foi a única que apresentou propostas. O deputado João Maia que mostrou a um bocado de políticos da vizinha Mossoró, que ele fez mais em três anos por essa estrada do que eles em 56 anos. O resto foi puro comício. Promessas, promessas, promessas, agradecimentos, agradecimentos, parabéns, parabéns, parabéns.
Particularmente, tinha várias perguntas e um comentário para fazer, mas infelizmente os discursos de Dr. Leonardo, Walter Alves, Larissa Rosado acrescentaram mais a audiência do que o meu, de Dr. Daniel Guerra (Promotor de Justiça), Gilvandro Fernandes, a imprensa local, o público em geral, enfim. Veja o que escrevi para ler no momento em que dessem oportunidade ao povo:
Antes de vir para essa audiência, pensei o que diria aos nossos nobres parlamentares e autoridades aqui presentes. No começo pensei que seria difícil, mas depois vi que não. O que dizer? Ora, nada mais simples e honesto do que dizer a verdade. E é dessa forma que começo minhas rápidas palavras, dizendo a verdade.
A verdade vossas excelências, é que o povo não acredita mais nas promessas dos senhores, isso talvez choque, mas é a verdade. A verdade é que nós temos razão e vossas excelências deram motivo pra isso também. Não é fácil acreditar em palavras quando enfrentamos uma enchente da barragem de Umarí e um inverno acima da média, como no ano passado, onde a única via asfaltada que liga Upanema ao resto do mundo, teve sua única ponte submersa por mais de 10 dias.
Não é fácil acreditar em palavras quando observamos mais de 30 pais de família, que tem seu ganho através dos alternativos que fazem a linha para Mossoró, ter que ficar parados por falta de condições de tráfego na BR-110, no trecho de “asfalto invisível” entre Upanema e Mossoró.
Como é que os senhores acham que fica a mente de um cidadão que adoece no período invernoso e tem que ser transportado de ambulância de Upanema para Mossoró e de repente o veículo fica atolado as 02:00h da madrugada no meio da BR-110, no trecho de “asfalto invisível”, entre Mossoró e Upanema.
Com que cara os senhores vão pedir voto a uma funcionária do Banco do Brasil que mora aqui em Upanema e trabalha em Campo Grande, quando nesse período em que ficamos ilhados, ela teve que fazer um trajeto desumano e perigoso para chegar ao trabalho. Em vez de ir direto para Campo Grande, via “asfalto invisível”, ela teve que ir para Governador dix-sept Rosado (estrada de barro), Caraúbas, Campo Grande. Isso todos os dias, ida e volta, para não perder seu emprego. Sem falar nos inúmeros agricultores que ficaram isolados, pois o “asfalto invisível” torou.
O que dirá os pais dos alunos que estudam em Mossoró, que ficaram esperando desesperados seus filhos chegarem, mas os mesmos só chegaram por volta das 03:00h, depois que o ônibus que eles vinham, desatolou.
Como vimos senhores, não inventei nada, nem aumentei nada. Ainda falta é muita coisa, mas o tempo não nos permite mais lembrar tais fatos que ocorreram no ano de 2009. A má notícia, é que em 2010 deveremos ter fatos como esses ou piores, novamente. A barragem está cheia, deveremos ter nossa ponte submersa de novo, ficaremos ilhados novamente e pra lembrança dos senhores, 2010 também é ano de eleição. Por ser ano de eleição, sinto ou alegro - não sei explicar – dizer que cresce muito uma onda de voto de protesto contra os senhores. O voto nulo está sendo pregado e o número de fiéis cresce mais do que o da Igreja Universal. Cresce também a revolta do nosso povo. Antes dos senhores virem para esta audiência, setores da sociedade pregaram o fechamento das principais saídas da cidade para forçarem os senhores a voltarem para suas casas através do “asfalto invisível” da BR-110.
Talvez essas palavras tenham chocado os senhores, mas tenho certeza que será só até os senhores saírem do nosso território. Por experiência de mais de 30 anos, sei que os senhores irão se recuperar do choque. Agora, essa recuperação vai causar mais problemas ao nosso povo, mais revolta e indignação e essa onda trará problemas mais graves pros senhores que se reelegerem no futuro. Talvez na próxima vez que os senhores vierem aqui as conseqüências sejam piores. Não quero fazer terror, nem colocar medo com minhas palavras. O que eu disse é somente o que vi, ouvi e senti de nossa sociedade, que até hoje tem sido muito paciente com os senhores políticos do RN.
Para encerrar, parabenizo o vereador Anísio Jr. e a Câmara Municipal de Upanema e a todos que tiveram a sensatez de vir ouvir o anseio de nosso povo sofrido da região oeste. Não queremos saber quem são os culpados pela BR não ter sido construída ainda. Queremos saber quem serão de vocês que terão a coragem de se mexer em prol de uma solicitação justa e que há mais de 50 anos humilha nosso povo.
Muito obrigado.
O que as autoridades disseram e o que eu estava pronto para perguntar:
"Ela agora vai sair". (Senador Zé Agripino)
EU - Faz tempo que o senhor e um monte de políticos dizem isso. O que nos faz pensar que acreditaremos no que o senhor está dizendo agora?
"Não sei por que ainda não colocaram a BR no PAC?". (Senador Garibaldi Filho)
EU – Senador, o senhor já foi presidente do Senado, já foi aliado da deputada Fátima Bezerra, consequentemente já esteve na mesma barca do presidente, tem um primo como líder da bancada do PMDB na Câmara dos deputados. Não seria mais fácil o povo de Upanema fazer essa pergunta e o senhor responder não!?
“Recurso nunca foi o problema. O problema era a falta de projetos”. (João Maia)
EU – Deputado, existe recurso, existe o projeto, existe a boa vontade de todos os políticos aqui presente, existe a necessidade do município e o anseio da população a mais de 50 anos. O que está faltando? A pergunta mais óbvia da reunião, ninguém fez.
Claudionor dos Santos disse que Mossoró está incluída neste sonho e desejoso que esta obra aconteça.
EU – Vereador, cite um exemplo de empenho do maior beneficiado com essa estrada, pois o município de Upanema será beneficiado, mas Mossoró será muito mais. O que a Câmara de Mossoró fez, ou está fazendo? A propósito, são pagas diárias dos vereadores para participar dessa audiência?
Além disso, perguntaria quanto existe hoje de recursos para início da obra, quanto que os parlamentares asseguraram para continuação da mesma no Orçamento Geral da União para 2010, perguntaria por onde começaria a obra e qual o município sede da empresa construtora, o que eles acham do movimento que cresce em nossa sociedade, a favor do voto nulo enquanto não tivermos a concretização da BR-110.
Com certeza, nossa sociedade teria mais perguntas, teria mais críticas, mas infelizmente não tivemos a oportunidade. São perguntas básicas e simples de serem respondidas. Não há dificuldade de elaboração nem de resposta. Quando será que teremos outra oportunidade como essas?