Logo após ter lido nosso artigo a respeito da influência das igrejas evangélicas no voto dos fiéis, um internauta nos enviou este artigo do Pastor Eduardo Rosa Pedreira, confirmando tudo aquilo que escrevi neste blog informativo. Segue o texto na íntegra:
Por: Pastor Eduardo Rosa Pedreira
O populismo enquanto fenômeno político e o jeito populista de governar já
são velhos conhecidos de parte da sociedade brasileira, pois desde a era
Vargas vem marcando presença significativa na história do nosso país. O que
é relativamente novo neste cenário é um outro fenômeno que aqui chamaremos
de populismo evangélico. Na essência, os dois são a mesma coisa, a diferença
esta na aparência. Isto porque na versão evangélica este populismo aparece
em uma embalagem própria para conquistar o público a que se destina.
São essencialmente semelhantes por ambos se sustentarem e perpetuarem-se na
figura do político carismático que sabe muito bem usar o palanque nos
comícios, as câmeras na TV e as ondas no rádio, meio de comunicação de massa
ainda muito forte entre as classes mais suscetíveis a este tipo de apelo.
Uma vez eleito, o político populista, evangélico ou não, vai ter na sua
prática de governo um comportamento idêntico em um ponto central: o uso da
máquina do Estado para promover ações de curto prazo visando a resolver
necessidades imediatas dos menos favorecidos, isto sem criar políticas
públicas capazes de, a médio e longo prazo, influenciar na transformação das
estruturas socioeconômicas geradoras da nossa desigualdade. Obviamente, os
maiores e reais beneficiários destas ações não são sequer aqueles para quem
elas teoricamente se destinam, mas sim quem as promove quando delas auferem
significativo lucro eleitoral.
Este populismo assume uma roupagem evangélica quando a mesma habilidade
verbal do palanque é usada no púlpito a serviço de uma idéia, que, por assim
dizer, é a chave mestra capaz de abrir as comportas do voto evangélico.
Refiro-me especificamente ao uso que se faz do corporativismo de classe
celebrizado na frase “irmão vota em irmão”. Com isto busca-se convencer o
eleitorado a escolher um governante tão-somente pelo fato de ser evangélico.
Ora o discurso populista de caráter puramente assistencialista, que já em si
mesmo é extremamente sedutor, quando acrescido desta dimensão espiritual dá
a este populismo evangélico uma combinação com muito poder de voto na
disputa eleitoral. Esta é a razão pela qual vai se vendendo sistematicamente
a ilusão de que, por ser o governante um evangélico, Deus naturalmente
abençoará o seu governo, transformando tudo pelo poder das orações e a
liderança do seu eleito.
Esta falácia pode ser facilmente desmontada ao lembrarmos que quando
escolhemos um governante os critérios desta escolha são mais amplos do que
aqueles usados para escolher um líder religioso de uma igreja. Estamos
elegendo alguém convocado pela sociedade para dirigir um povo marcado pela
pluralidade, inclusive e principalmente de crenças. Não se governa uma
cidade, estado ou país simplesmente apresentando como única credencial sua
fé e denominação religiosa. Existem outras qualidades que um postulante ao
governo de qualquer instância do nosso país deve apresentar, qualidades
estas que os políticos representantes deste populismo evangélico fazem
questão de não trazer a cena. É exatamente nesta manobra onde se verifica a
clara instrumentalização da fé com fins puramente eleitorais, quebrando
despudoradamente um mandamento bíblico dos mais sagrados, o de não usar o
nome de Deus em vão! Importa ainda ressaltar que tais políticos não teriam
sucesso não fosse a cooperação dos pastores orientando os seus rebanhos a
votarem cegamente no candidato “ungido pelo Senhor”. Reedita-se então a
histórica relação entre o rei cujo poder político era sustentado pelo poder
espiritual do sacerdote!
Infelizmente a Igreja Evangélica como hoje se configura é um terreno fértil
para a proliferação deste populismo. Isto, por ser em sua maioria composta
por denominações cuja presença maciça se faz sentir nas franjas sociais do
nosso país, onde existe uma população marcada pela exclusão social, presa
fácil deste esquema político-religioso. Todavia, há uma minoria em meio a
esta grande massa disposta a marcar sua posição contrária a esta onda
populista, pois enxerga nela graves perigos para a Igreja e para o país!
EDUARDO ROSA PEDREIRA é pastor da Comunidade Presbiteriana da Barra da
Tijuca e professor da Fundação Getúlio Vargas.
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