A febre do biodiesel toma conta do Brasil
As pesquisas e os testes com diferentes tipos de sementes seguem em ritmo acelerado; o uso de combustível biológico será obrigatório em 2008
Annie Gasnierenviada especial a Guamaré (Rio Grande do Norte)
Depois da cana-de-açúcar, do ouro, do algodão ou ainda do café, o Brasil vive agora a febre do biodiesel. Uma lei, que foi assinada em 2004 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tornará obrigatório a partir de 2008 o acréscimo de 2 % de bio-combustível em um litro de diesel. Portanto, até lá, o país precisa multiplicar por quatro sua produção atual, de 200 milhões de litros.
O biodiesel é um combustível elaborado com oleaginosas. As mais utilizadas, nos Estados Unidos e na Europa, são a soja e a colza. Mas os brasileiros querem tirar proveito das suas plantas tropicais, que são fáceis de cultivar para os pequenos agricultores.
O presidente Lula, que está pleiteando um segundo mandato, dá uma grande importância a este projeto. "Eu sempre tive a certeza de que o biodiesel iria resolver o problema dos pequenos agricultores; estou convencido de que ele é o petróleo do futuro", afirma. Ele se diz disposto a antecipar a aplicação da lei, uma vez que a produção de biodiesel já passou a aumentar de maneira constante. Em todo o país, 600 postos de combustíveis já comercializam a nova mistura.
Numa região pobre do Brasil, a companhia petroleira Petrobras empreendeu uma experiência inovadora que vem mobilizando 5.000 famílias de agricultores. "Nós temos o poço de petróleo que todo mundo sonha ter no seu jardim, e, além disso, é uma jazida inesgotável!", comemora Livania Frizon, da "agro-aldeia" de Canudos, uma fazenda de propriedade coletiva situada em Ceara Mirim, a 100 quilômetros de Natal, a capital do Estado do Rio Grande do Norte.
Ao lado das lavouras de papaias, de bananeiras e de mandioca, os fazendeiros plantaram vários hectares de "pinhão-manso" (Jatropha curcas, também conhecido como pinhão-de-purga), uma árvore originária desta região semi-árida, cuja fruta contém 38% de um óleo destinado à elaboração do biodiesel.
Mesmo crescendo no solo arenoso, este vegetal produz três toneladas de grãos por hectare e oferece duas colheitas anuais. "O sol, considerado aqui como um castigo para a agricultura, daqui para frente é uma bênção", explica Livania. A Petrobras havia fornecido à cooperativa as sementes que se transformaram, em Canudos, em 1.200 pés de "pinhão-manso".
Para as 142 famílias de pequenos agricultores de Palheiros III, uma outra comunidade rural situada à proximidade de Upanema (a 250 quilômetros de Natal), a companhia petroleira forneceu sementes de mamona. Assis Gama, o presidente de Palheiros III, faz visitar com orgulho a plantação de 300 hectares de mamona. "Essa planta não exige muita manutenção, e, em dois anos de vida útil, um pé dá seis colheitas", explica. "Isso permite valorizar superfícies que não precisam de muitos cuidados, ao lado das nossas culturas hortifrutícolas".
A mamona, que crescem em terrenos baldios, garante uma renda complementar aos pequenos camponeses. Esses últimos são incentivados por Brasília a valorizar a terra que lhes foi entregue no momento da reforma, por meio dos créditos destinados à agricultura familiar.
"O nosso desafio é de organizar a produção da matéria-prima, isso porque nós teremos em breve uma grande usina de biodiesel no Rio Grande do Norte, assim como haverá seguramente uma em cada Estado do Brasil", estima Ulisses Soares, um geólogo que atua a serviço da Petrobras há vinte anos.
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