RADIO SABORES DA SERRA

14 de novembro de 2006

Produtores apostam na gliricídia

MÁRCIO MORAIS
De Upanema

Upanema - Pequenos produtores do município de Upanema estão apostando no plantio da espécie gliricídia para formação de reservas alimentares para os rebanhos bovinos, caprinos e ovinos. Essa é mais uma das várias experiências de convivência com o semi-árido que já começa a apresentar resultados satisfatórios para o homem do campo.
De acordo com estudos, a gliricídia é tão resistente à seca que mesmo nos meses de outubro, novembro e dezembro, quando a maioria da flora nativa está com as folhas caídas e cinzentas, ela permanece verde com altos teores de proteínas que variam de 15 a 30%.
Os produtores do município de Upanema estão recebendo orientação técnica do Projeto Dom Hélder Câmara, que tem atuação no Território do Sertão do Apodi e compreende 17 municípios do chamado Médio Oeste Potiguar. Os agricultores estão recebendo investimentos e capacitação voltados para promoção do desenvolvimento sustentável da região semi-árida.
O agricultor Francisco Diassis, conhecido como "Tijela", foi um dos agricultores do assentamento Palheiros III, em Upanema/RN, que iniciou o plantio há dois anos e hoje sustenta o rebanho com a forragem da gliricídia. "O gado começou sem querer comer. Iniciei dando junto com o resíduo. Mas agora come a folha sozinha e come de boca cheia", comentou Tijela sobre o resultado da gliricídia em seu rebanho.
O assentado Francisco Saraiva comenta que, além de permanecer sempre verde, uma vantagem a mais da gliricídia é que tem muita facilidade de pegar. "Na formação do banco de proteína, a gliricídia é mais resistente do que a leucena, sem contar que pega tanto de semente como por galha (estaquia)", comenta o agricultor.
A gliricídia está em expansão no Médio Oeste. Segundo o coordenador de desenvolvimento produtivo e comercialização do Projeto Dom Hélder Câmara, Felipe Jalfim, atualmente existem 10 hectares de gliricídia implantadas no assentamento Palheiros III, em Upanema.
Através de parceria entre a Petrobras, as Prefeituras Municipais e as associações de agricultores, essa espécie está sendo expandida para o assentamento Lagoa Vermelha, também em Upanema, e a comunidade rural Sombras Grandes, localizada no município de Caraúbas.

Existem nove espécies de gliricídia
No Brasil a espécie tipo G. sepium (=G. maculata HBK) não tem nome vulgar e é chamada de gliricídia. Nos países de língua espanhola é chamada de madre de cacau e madero negro. O nome científico vem do latim, glis (rato) e do verbo caedo (matar), em referência ao pó da casca e das sementes usado como veneno para ratos nas regiões tropicais.
Existem cerca de nove espécies conhecidas, selvagens e cultivadas, compreendendo arbustos e pequenas árvores. A espécie-tipo pode chegar a 12m de altura. A inflorescência é do tipo racemosa, muito vistosa, aparecendo no início da primavera, antes da brotação das folhas, conferindo às árvores certa semelhança com os pessegueiros em flor e tornando-as bastante atraentes.
O uso mais conhecido das gliricídias é no sombreamento das culturas de café e cacau e como suporte nas plantações de baunilha (planta epífita). As gliricídias são usadas como cerca-viva, quebra-vento e moirão vivo, além de serem consideradas excelentes como plantas melíferas.
A queda da folhagem, que ocorre na época seca e da abundante floração, promove anualmente, a incorporação ao solo sob as copas, de cerca de 60 a 70 kg de matéria orgânica rica em nitrogênio. As folhas têm odor adocicado devido à ocorrência de cumarina (substância aromática encontrada em alguns condimentos). São usadas como forragem para bovinos, suínos, ovinos e caprinos.
Têm alto teor de proteína (15 a 30%). As flores são comestíveis e contêm cerca de 3% de nitrogênio. São usadas na alimentação humana, principalmente fritada. A madeira é densa e bastante durável. É usada principalmente na confecção de implementos agrícolas e moirões.
As gliricídias podem ser exploradas como lenha. Os ramos apresentam um poder calorífico bastante alto (4.900 kcal/kg). O uso potencial das espécies deste gênero inclui o controle de erosão em encostas e revegetação de solos degradados.

AMBIENTE
São nativas das regiões tropicais da América Central, onde são comuns nas encostas e matas e em áreas montanhosas até a altitude de 1.500 a 2.000 m. São bastante tolerantes à estiagem, mas não toleram geadas. As espécies se propagam facilmente por sementes ou por meio de estacas. As plantas apresentam excelente capacidade de rebrota, mesmo quando severamente podadas. (fonte Embrapa)

Matéria publicada no Jornal Defato (14/11/06)

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