RADIO SABORES DA SERRA

5 de abril de 2007

É mió dechá do jeito que tá.

Depois de ler essa matéria sobre a criação de tilápias por assentados aqui no Rion Grande do Norte, fico a me perguntar: por que isso só acontece em outras cidades?


Notícias de projetos vitoriosos em assentamentos rurais saem nos jornais todos os dias. Com raras exceções aparece algum no nosso município, como é o caso do Palheiros III. Mas, se formos analisar, temos uma das maiores concentrações de assentamentos rurais do estado, se não formos o município que tenha o maior número. Por isso, acho que os projetos deveriam andar mais por essas bandas, como diz o matuto. Não falo de projetos de inventar palestras de tudo que é tipo de assunto só pra ganhar o dinheiro do governo federal não. Palestras e treinamentos são importantes, não resta dúvida. Mas, mais importante ainda é a busca pela independência financeira desses assentados através da agricultura. Ou não é esse um dos objetivos dos envolvidos no processo agrário?


É claro que a independência financeira é apenas um dos aspectos que estão incluídos dentro e um programa de reforma agrária séria. No Brasil, onde tivemos grandes avanços na quantidade de assentados nos últimos anos, mas ínfimos avanços na qualidade de vida dos mesmos, não parece interessante para os governantes essa independência. Quando chega à época da campanha, surgem números astronômicos que causam até desconfiança, em relação a quantidade de colonos que os governos estadual e federal dizem ter assentado no RN. A propaganda é enorme. Mas, quando é no período de inverno, o que vemos é o governo do estado dando meio quilo de feijão para o agricultor plantar. Sem esquecer que as sementes chegam sempre quando o inverno ta terminando e as mesmas não são pra todos. O governo federal promete um seguro para caso haja perda da safra. Até hoje ninguém viu a cor desse dinheiro.


O resultado dessa série de ingerências mal executadas na vida do homem do campo, é que quem acaba pagando o pato é sempre a boa e velha prefeitura. Chegou o inverno? A prefeitura tem que pagar o trator dos assentados. O trator ta quebrado? A prefeitura tem que comprar as peças logo. No assentamento não tem escola? A prefeitura tem que construir. Faltou água no assentamento? A prefeitura tem que furar um poço. É assim que funciona! Não entendam que eu estou dizendo que a prefeitura está errada em fazer essas ações. O que está errado é só a prefeitura fazer essas ações. É diferente. Acredito também que ela (prefeitura) deveria fazer mais projetos que viabilizassem a economia rural em nosso município. Querer tudo é impossível.


Mas, e o agricultor, tem responsabilidade no que está acontecendo? Será que projetos assistencialistas são melhores que projetos que geram trabalho, consequentemente dignificando o homem do campo? Uma boa parcela vai responder: claro que sim! O que é fácil da menos trabalho. Quer exemplos: o dinheiro que vem do Pronaf pra investir em seu lote é realmente investido corretamente, ou é pra comprar uma moto velha? Será que eles pagam suas mensalidades e contribuem para uma melhoria na organização da associação rural? Será que eles cobram dos presidentes a prestação de contas do caixa das associações? Como se explica uma associação chegar ao período invernoso sem nenhum problema mecânico no trator e a grande maioria só rodar se a prefeitura comprar as peças? Será que eles não fazem vista grossa para projetos de educação que tem o objetivo de proporcionar ensino superior para pessoas da comunidade, mas todos sabem que moram na cidade? Esse pessoal que se formar vai realmente dar um retorno técnico para os assentamentos? Quantos assentados fantasmas existem em Upanema?


Pois é. Parece que os projetos assistencialistas continuarão resistindo ainda por um bom tempo em nosso município. É muito mais cômodo. Gera emprego e renda pra muito mais gente e não cria trabalho para os assentados.

- Esse projeto de criação das tilápias só pode ser coisa que inventaram pras bandas da capitá. É mió dechá do jeito que tá.

Nenhum comentário: