RADIO SABORES DA SERRA

15 de dezembro de 2007

A fanfarra católica

Quando escrevi sobre a carta da CNBB conclamando todos os cristãos a se unirem ao bispo dom Luiz Cappio, em sua greve de fome, que nada mais é que um protesto contra a transposição do Rio São Francisco (artigo: Vão procurar uma lavagem de roupa), um nobre leitor mandou um comentário dizendo: "... pouco estão dando atenção no que vc diz ou deixa de dizer". Pois bem, o leitor concordou em parte com o que escrevi, pois no mesmo artigo eu digo que tudo que tinha escrito não valia de nada. Ou seja, ele disse o que eu disse e ainda discordou do que eu disse, pois ele contribuiu para dar atenção ao que escrevo. kkkkkkkk. Dar atenção não significa concordar. Mas, deixemos Anax de lado, que é um péssimo imitador de jornalista, pessoa sem senso de humor e que na maioria das vezes expressa seu pensamento político e religioso sem pensar muito. Vamos ver se vão dar atenção ao artigo do renomado jornalista da Veja, André Petry. A revista que circula essa semana, trás um texto interessante sobre o mesmo assunto. Me parece que os pensamentos do renomado jornalista são muito parecidos com os meus, apesar de não nos conhecermos, nem convivermos em lavanderias procurando lavagem de roupas. Será que vão dar atenção a ele? Vejamos:

DEU NA VEJA

"De agora em diante, os milhões de católicos brasileiros devem acreditar em Deus e na virgindade de Maria, evitar a carne na Sexta-Feira Santa e repudiar a transposição do Rio São Francisco"

De André Petry:
A greve de fome do bispo Luiz Flávio Cappio contra a transposição do Rio São Francisco está se transformando numa maiúscula palhaçada – com todo o respeito aos palhaços profissionais. No início da greve de fome, tudo se resumia a um protesto meio biruta do bispo, que, com o mesmo propósito de impedir as obras de transposição do rio, já fizera jejum por onze dias em 2005. Depois de uns dias a mais e uns quilos a menos, o bispo subiu o tom: denunciou a súbita existência de uma "ditadura declarada" no país e informou que sua saúde era desimportante e o fundamental mesmo era "o estado de saúde da democracia brasileira". (O leitor já reparou que, hoje em dia, qualquer um que levanta uma bandeira, ainda que prepotente e totalitária, sempre o faz em nome da democracia?)
Pois, enquanto o bispo transitava da condição inicial de mártir do rio para a de mártir da democracia, deu-se o lance triunfal da pantomima: a direção da CNBB, entidade que reúne a nata do clero católico, lançou uma nota conclamando "os cristãos e pessoas de boa vontade" a se unirem "em jejum e oração" ao bispo em "solidariedade à causa por ele defendida". Ou seja: a cúpula da Igreja Católica ficou oficialmente contra a transposição do São Francisco. Mas, engraçado, não se viu nenhum bispo da CNBB entrando em greve de fome.
Qualquer brasileiro – padre, pedreiro, médico ou bombeiro – tem o direito de achar o que quiser da transposição do São Francisco, mesmo debaixo da "ditadura declarada". O cômico é que o tema esteja sendo tratado como se fosse um dogma do catolicismo. É mais ou menos como dizer que, de agora em diante, os milhões de católicos brasileiros devem acreditar em Deus e na virgindade de Maria, evitar a carne na Sexta-Feira Santa e repudiar a transposição do rio. Será só a do São Francisco ou a de qualquer rio? Afetaria o Rubicão? O Amazonas? Tigre e Eufrates? Haverá uma encíclica papal prescrevendo sobre transposições de rios?
Com todo o respeito aos católicos, profissionais ou não, a coisa evoluiu para um pastelão monumental – mas, no fundo, faz um tremendo sentido. É, mais uma vez, a Igreja Católica se metendo onde não é nem pode ser chamada. Pode-se ser contra ou a favor da mudança do curso do São Francisco, mas certamente isso não é uma decisão de natureza católica, atéia, budista ou agnóstica. Nem de fé hidráulica.
Ao entrar com seu peso institucional num tema que não lhe diz respeito como guardiã da fé católica, a Igreja volta a exibir sua propensão a tutelar a todos, policiar a todos, e não apenas seu rebanho – como faz no caso do aborto, do casamento gay, da pílula do dia seguinte, das células-tronco... Quando isso acontece de modo discreto, já é inconveniente, mas nem todo mundo nota. Quando vem acompanhado de greve de fome e conclamações ao jejum nacional, vira fanfarra.
DEUS, O VICE
Na derrubada da CPMF, ficou evidente a arrogância de Lula e dos petistas, que parecem ainda hoje ignorar que, em política, a arrogância é a véspera do erro. Para definir esse vício, fica a lapidar frase que o jornalista Ricardo Noblat escreveu em seu blog: "Se um dia o PT se coligar com Deus será para tê-Lo como vice".

Um comentário:

Anônimo disse...

Jornal Nacional de 15 de dezembro...
" O Vaticano condena a atitude do Bispo brasileiro que protesta, com greve de fome, a transposição do rio são francisco, diz ser um ato anti-cristão.