Demóstenes Torres (DEM-GO) e Marconi Perillo (PSDB-GO) não são os únicos adversários políticos que Renan Calheiros (PMDB-AL) está espionando. O presidente do Senado coleciona informações contra outros senadores. Um de seus principais alvos é José Agripino Maia (RN), líder do DEM. Renan vasculha os negócios do filho de Agripino, o deputado federal Felipe Maia (DEM-RN).
Felipe adquiriu há cerca de seis anos uma empresa que presta serviços, mediante concessão, à BR Distribuidora, um dos braços da Petrobras. A empresa se chama Comav. Transporta o combustível que abastece as aeronaves que decolam dos aeroportos de Natal e Mossoró, ambos no Rio Grande do Norte.
Entre quatro paredes, Renan diz ter "uma bomba" contra Agripino. Afirma que, se necessário, não hesitará em detoná-la. A estratégia do presidente do Senado é a de demonstrar, segundo diz reservadamente, que seus pares "não têm autoridade moral" para questioná-lo.
O blog ouviu Agripino Maia. O líder do DEM reagiu com indignação. “Ele [Renan] que faça a investigação que bem entender. No caso de Felipe, vai dar com os burros n’água. Ele está procurando qualquer coisa para atingir aqueles que julga serem os seus algozes. A qualquer preço. Acho bom que essas coisas apareçam. Que venha logo às claras. Que o Renan diga o que tem, desembucha. Onde está o pecado da Comav? Diga logo. Não fique com insinuações vagabundas”.
O filho de Agripino Maia é sócio majoritário da Comav. Detém 80% do capital social da empresa. Seu sócio, Sinval Moreira Dias, controla os outros 20%. Quando os dois compraram a empresa, ela já prestava serviços à Petrobras.
Sob a nova administração, o primeiro contrato com a BR Distribuidora foi assinado em fevereiro de 2001, ainda durante o governo tucano de FHC. Na gestão Lula, o contrato foi renovado duas vezes –em 2004 e, há poucos dias, em 2007.
“Se Renan está insinuando que meu filho foi beneficiado no governo Fernando Henrique, eu digo que isso é uma balela. Se a empresa dele não prestasse um bom serviço, por que o contrato foi renovado no governo Lula?”, questiona Agripino Maia. “Será que o atual governo tem alguma razão para beneficiar a empresa de meu filho? É óbvio que não”.
A descoberta de que Renan perscruta os negócios de Felipe Maia surge nas pegadas da revelação de que o senador despachou para Goiânia, há duas semanas, um assessor de seu gabinete, Francisco Escórcio, com a missão de espionar Demóstenes Torres e Marcoini Perillo (aqui e aqui). DEM e PSDB acenam com a hipótese de protocolar na Mesa do Senado mais uma representação contra Renan, a quarta.
Os dois partidos aguardam pela manifestação do presidente do Senado. Renan manteve-se calado durante todo o final de semana. Seu plano de espionagem veio a público a contragosto. A intenção do senador era a de acumular dados, para usá-los mais adiante, quando fosse necessário constranger os adversários.
FONTE: Blog de Josias de Souza (Folha de São Paulo)
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